lundi 18 avril 2011

Beatbox humano: o tal poema prometido há tanto tempo


Bom de beat bate boca
em sonho bom
                       Zéfere

Bom de boca
Bate boca
Todo dia
O dia todo

Pouco importa
Boca cheia
Boca suja
Boca boa

Bocadinho
Que abre a boca
Bota o povo
Boquiaberto
Todo bobo
Todo ouvidos
Só pra ouvi-lo
Mais um pouco

Bom de boca
Se abre a boca
E bate um beat
E boxeia
Com o ouvinte
Co’a plateia
Nũé da boca
Só pra fora

Bota a boca
Em todo o mundo

A boca toca
E bate fundo
Em cada corpo
Vivo ou morto
Fauna ou flora

O fora adentra
O dentro afora

Co’o balanço
Que bombeia
Batucando
Quando bumba
Co’a botija
Do trombone
E do trompete
Que repete
Que repete
Que repete
Que repete

Repeteco
Vira furo
Dá notícia
Em discoteca

E se propaga
Boca em boca
Plaga em plaga

Lá na zona
Em zona sul
A boca pega
Na favela
Em todo lado
O beatboca
Vira praga

*

Bom de boca
Nesse entanto
Também pede
Um bom descanso

De vez em quando

Que nem todo homem
Tem dom pra santo

*

Tem boca livre
Faz ũa boquinha

Vendo um pedaço
De mau caminho
Canta baixinho
Dá um estalinho

Chega o domingo
Pede cachimbo

Boca de fumo
Julga propício
Vício em silêncio
Sempre um bom pito
Dá ũa pitada
De temperança
No pensamento

Para co’o tempo

Pito aspirado
Chama num trago
Chama silente
Brasa no peito
Que inspira a gente

Pois mesmo assim
De boca tapada
Tem bate boca
Co’a boca do topo
Que lá em cima
Toda ensimesmada
Em massa cinzenta
Não fica parada
Inventa outro beat
Que bate quebrado

Novo bailado
Bolado co’o fumo
Espiralado

Fumaça que sopra
Sai feito nota
Caindo na dança
Feita no fundo
Do inquieto bestunto

Mas estranhado
Sem soar ressonância
Meio que cansa

Se passa de um tico
Bico fechado
Sem som proferido
Fere um bocado

Parece que cansa
Cricri de grilo
Na boca do rio

*

Puxa o seu pito
Da boca pra fora
Dá-lhe descanso
Na boca da noite

*

Enche a sua boca
De dentifrício
Dita batida
Beat de escova
Scratch de dente
Mixa bochecho
Com quebra-queixo

Sempre com ritmo
Segue a cadência
Do útil rimado
Em múltiplo agrado

Arruma um pijama
Ruma pra cama
Deita e se nina
Então se nana

De olho fechado
De boca aberta
Dorme sem sono
E sonha que sonha
Ainda acordado

*

Bom de boca
Em bate boca
Todo dia
O dia todo

Mas contudo
Todo mudo

A boca move
A língua encena
Mas sua pena
Cumpre e sofre
Pois não se ouve

*

Todo o mundo
Muito embora
Todo ouvidos
Pode ouvi-lo

E o povo todo
Todo bocas
Bate agora
O que se bate
Da sua boca
Só pra dentro

Boca afora
Num crescendo
Só na boca
Lá do povo

Feito o som
Fosse um sonho
Que só soa
Noutro corpo

Feito o povo
O analfabeto
E o mais letrado
Fosse um oco
Que soubesse
E lesse em eco
A partitura
Que na boca
Embora muda
Se divulga

Todo o mundo
Lendo junto
E no compasso
Cada traço
E entrelinha
Que se cala
Nos seus lábios

Noite e dia
Dia e noite

Feito em sonho
Ou acordado
Feito mudo
Ou desbocado
Feito toda
E qualquer hora
Sempre fosse
Boa hora
Pra botar a
Prosa em dia
Em beatboca
Em poesia

Que inda fica
Feito cola
Ainda que indo
O som embora

dimanche 6 mars 2011

Beatbox humano: alguns dos bons de (bate)boca musical


Vai aqui uma pequena seleção de vídeos com alguns dos melhores beatboxers do planeta. Pra quem não sabe bem do que se trata, um resumo do que é o beatbox humano, bastante frequente no hip-hop: é fazer, só com a boca, a batida da música; fazer da boca um instrumento de percussão.
Mas a boca não serve só de percussão no beatbox: pode-se fazer a batida e a melodia ao mesmo tempo, às vezes envolvendo o canto; aliás, pelo pouco que conheço da coisa, parece que alguns chegam a reproduzir até três (ou quatro) sons diferentes de uma só vez.
E existem também aqueles que fazem beatbox ao mesmo tempo que tocam um instrumento de sopro.
Outros inserem na brincadeira algum instrumento que não depende da boca, o que não quer de forma alguma dizer que tudo fica mais simples.
Pra terminar, há também os (ainda) mais onipotentes que, insatisfeitos com um só acompanhamento, chamam pro ringue ainda mais instrumentos enquanto beatboxeiam.
Tanta arte – e dedicação à arte – me faz duvidar que essas mesmas bocas consigam também comer, beber, conversar, beijar..., tema que ando trabalhando em um poema que, logo que estiver razoavelmente legível, publicarei numa outra blog-nota.

P.S.: A origem da minha curiosidade pelo beatbox – e da pesquisa pra seleção apresentada – vem do vídeo abaixo, de Eklips, uma espécie de mix da história do hip-hop em uns quatro minutos:
 ...

jeudi 3 mars 2011

Um rolo com um rolo – de filme fotográfico

Praqueles que gostam de informação, vai aqui uma dica de um site de uma revista francesa que retoma, traduzidos em francês, artigos do mundo inteiro: http://www.courrierinternational.com/.
Foi nele que encontrei ontem uma noticia originalmente publicada no New York Times e que trata de uma curiosidade que me amoleceu, pôs um pesinho de ternura no meu fim de tarde. O artigo vai certamente botar nostalgia no peito daqueles que amam, mais ou menos como eu, a fotografia; daqueles que, tendo tido ou não a oportunidade de revelar suas próprias fotos num quarto escuro, ao menos sentiu um quê de contato e calor humano tocando – com a mão ou com os olhos – uma foto presenteada em papel, recebida por carta ou revisitada num antigo álbum de família.
Sem querer tirar o prazer da leitura, mas me sentindo na obrigação de passar por alto a ideia do artigo àqueles que não leiam francês ou inglês, parece que os dias do bom e velho rolo de filme fotográfico estão realmente contados... Aqui o original in English e a versão en Français do texto.
Depois dessa leitura, dei também uma navegada em algumas paginas interessantes, tão nostálgicas quanto o artigo.
Em uma delas, num blog da Kodak, encontrei um tributo ao Kodachrome, onde ha algumas entrevistas com fotógrafos reconhecidos que usavam esse rolo de filme pra tirar algumas fotos que, com certeza, trazem muitas lembranças. Recomendo, além da leitura – ou mais ainda – , uma olhadinha no diaporama, nos slides que estão no centro da pagina (A Tribute to KODACHROME: A Photography Icon). E quem quiser se divertir um pouquinho, vai no Top 5 à direita e dá uma bisoiada, principalmente, na propaganda – pseudo-propaganda, com (quase) certeza – da câmera de olho (Introducing KODAK eyeCamera 4.1. It's Amazing!), um lindo (...) par de óculos Kodak que tira foto.
Outro site interessante com o qual esbarrei nessa rápida pesquisa é o http://www.kodachromeproject.com/, onde, lá no fórum de discussão, pode-se ler um pouco sobre a tristeza e as ações desesperadas dos participantes pra que o Kodachrome não bata as botas de vez. E tiro de lá uma citação – não sei de quem, mas postada por um desses amantes da película fotográfica – , uma chave de ouro com a qual pretendo fechar esta blog-nota:



“Digital is like shaved legs on a man - very smooth and clean but there is something acutely disconcerting about it.”
(“[A foto] digital é como um homem com as pernas depiladas: lisinho, limpinho, mas ali tem alguma coisa que deixa a gente muito desconfiado”.)


lundi 28 février 2011

Bilíngue pra bilíngue: a tradução em cena

Andei pensando nos últimos tempos em escrever um livro de poesia bilíngue, mas não um livro bilíngue de poesia: não nos moldes que sempre se viu e vê, não com simples traduções dos poemas pra que aquele que não entende a língua do original possa aprendê-la, compará-la ou, o que é mais corrente, ignorá-la, ler o livro como se as paginas pares – as da esquerda, aquelas nas quais se encontram os escritos em língua estrangeira – fossem meramente ilustrativas. Algo semelhante já pode ser encontrado no cinema, por exemplo, em um filme do qual falarei mais ao fim desta blog-nota (, ou seja, quem não tiver tempo pra ler tudo, pode pular direto pro fim, logo pro vídeo postado abaixo – que já tem la seus bons sete minutos – ou pro paragrafo antes dele..).
A ideia seria escrever, criar, parir textos bilíngues mais ou menos simbióticos, onde nenhuma das duas línguas é de partida ou de chegada, e sim um dialogo traçado numa via de mão dupla, uma bi-parturição ou bi-partição, ou bi-partitura. No fim das contas, é verdade que toda tradução não é nada mais que isso, um dialogo; ademais, todo e qualquer texto é um dialogo, dialogo com tantos outros textos que o escritor leu durante a vida e que, consciente ou inconscientemente, se inserem naquele que esta sendo escrito, além de ser, também, um dialogo com outros textos não verbais ou só oralmente verbalizados, em mundos palpáveis ou imaginários.
No entanto, voltando ao projeto do livro bilíngue pra bilíngue, o intuito seria obter textos que, embora independentes de suas traduções, pudessem oferecer uma outra leitura – complementar, potencializante, mas também independente – na tradução, graças aos diferentes potenciais de cada uma das línguas e das culturas em jogo (talvez como as transcriações de Haroldo de Campos, ou um pouco mais além). A prova de fogo do livro seria fazer com que o leitor – ideal, que deveria dominar as duas línguas – não conseguisse distinguir o original da tradução, ou a tradução do original, ou melhor, o original traduzido da tradução originalizada. Portanto, com essa visão da tradução como algo que ultrapasse a mera comunicação, a simples (re)transmissão de uma mensagem, o tradutor – no caso, até agora, o auto-tradutor (à la Beckett, mais ou menos), pois eu mesmo escreveria as duas (ou mais) versões – seria também um autor, ou um bi-partidor, um produtor (e catalizador) de bi- (ou multi-) partições textuais, uma espécie de diretor, de regente, de maestro que seguisse partituras distintas de uma só vez, além de conduzir e ser conduzido por distintas vivências e maneiras de tocar advindas de cada instrumentista que compõe a orquestra. Assim, mais (ou menos) que autores, tanto o maestro quanto a orquestra tornar-se-iam atores, juntamente com outros a(u)tores ainda mais importantes – sem os quais nada disso existiria: as duas línguas em questão.
Pra concluir, com tudo isso em mente, encontrei um curta-metragem que muito me agradou e que brinca com algo semelhante, aquele que mencionei mais acima. Trata-se de um filme de Fábio Durand, lançado em 2000 – se não me engano, apesar do roteiro ser de 1997 – e bastante merecedor dos prêmios recebidos, seja pela originalidade (tradutiva), seja pela realização e pela atuação, embora apresente algumas falhas em vários desses mesmos aspectos:
Não acredito que seja indispensável o domínio das duas línguas pra se compreender o curta, mas, como dizia, a tradução – a legenda, aqui – não é uma mera (re)transmissão de uma mensagem, e o conhecimento das duas línguas permite uma apreciação mais fina do todo e dos detalhes: apreciam-se melhor os questionamentos, os jogos – bem (ou nem tão bem) sucedidos – de linguagem, os jogos de cena que as legendas – também – encenam.

mardi 22 février 2011

Justin Bieber: Panis et circenses

Não, Justin Bieber não regravou – e nem acredito que um dia venha a regravar – a mitológica “Panis et circenses” dOs Mutantes, que já deve ter lá uns quarenta anos, quase três vezes a idade do novo pop-star. Não, o assunto sugerido pelo título tem mais a ver com o pão e o circo do império romano - e, atualmente, mediático - do que com música. (Aliás, ligeiros parênteses para os latinistas: pensando nos casos do latim, a expressão correta seria “panem et circenses”, não? E minha dúvida não vem das minhas poucas lembranças de estudo da língua, mas simplesmente porque o Google quis me corrigir quando eu procurei pelo título da canção...)
O que conta – e conto – aqui, na verdade, é que, no último fim de semana, o jovem cantor participou de um jogo de basquete da NBA (National Basketball Association – “national” significando “dos EUA”, liga onde o campeão recebe o presunçoso título de “world champion”, “campeão do mundo”...), e Bieber, já um vencedor dos vídeos virais internáuticos, ainda foi considerado o melhor jogador, o mais valioso da partida, o MVP (most valuable player), mesmo com a derrota do seu time e com vários dos demais participantes bem mais brilhantes que ele:
Confesso que, pra um menino – dedicado à música (boa ou má, pouco importa...) – jogando no meio de gente grande, até que ele não foi nada mal; mas deu uma dozinha do garoto, que, além de ter chegado direto ao evento depois de treze horas de voo após um show seu, tomou umas pequenas pancadas dos grandões:
Pra quem não conhece o tal evento da NBA, trata-se de reunir, pra uma partida amistosa, uns seis jogadores profissionais aposentados, umas duas profissionais em atividade na WNBA (a versão feminina da NBA) e uns tantos atores, cantores e afins, todos estes homens, considerados, portanto, aptos a brincar - pau a pau (...) - com algumas das melhoras jogadoras do mundo... No entanto, deixando de lado a discussão sexista, pensemos mais no caráter  mediático e comercial do trem, do troço, do treco, ou – pra empregar uma palavra-ônibus que conjugue melhor com a situação – do negócio.
Nunca vi um jogo pior na vida – talvez só aqueles em que eu mesmo participava (...) – , e, mesmo assim, imagino que deve ter dado bastante IBOP, já que o primeiro vídeo que postei aqui, o dos melhores momentos de Justin Bieber, teve mais de um milhão de visitas em menos de uma semana. Aliás, não é à toa que o jovenzinho ganhou o prêmio de melhor jogador, ainda que tenha perdido a partida: os espectadores é que escolhiam, votavam no seu favorito pela Internet e pelo celular, ferramentas que fazem parte, principalmente, do cotidiano da faixa etária – dos fãs – do músico MVP.
Bom, em poucas palavras – pois, no fim das contas, nem sei se vale a pena eu (te fazer) perder tempo com tantas – , embora seja mais importante competir do que ganhar, pra se tornar o mais valioso da partida – ou da partitura – , prepare bem o seu circo pro público, que o circo é já o pão de hoje em dia, até praqueles que mal têm dinheiro pra comprar o pão pra se nutrir enquanto assistem à TV, que essa, sim, dá-se sempre um jeitinho de arrumar uma...

dimanche 20 février 2011

O discurso do rei, Cisne negro etc. e tal

Há muito, há um mês e alguns dias – pra ser mais ou menos preciso – , não havia postado coisa alguma por aqui, pois não me encontrava por aqui. Prum pouco mais de precisão, agora em relação ao último fato, eu não me encontrava próximo ao computador por meio do qual escrevo neste momento. É vero que “por aqui”, podendo querer dizer “aqui na Internet”, eu poderia me manter “por aqui” onde quer que estivesse, desde que aqui – ou melhor: ali – houvesse um computador e Internet; e havia. Mas eu estava por aqui (!) com tudo isso, com tudo isso de ficar como que fisgado na rede mesmo nas férias, e eu queria férias, férias completas: tinha tirado férias de tudo aquilo que faço quando não estou de férias, excetuando umas poucas atividades que me são indispensáveis, mesmo de férias: ler, escrever, escutar música e assistir a filmes – além de comer, beber, amar e adjacências tais quais respirar e fumar, ou respirar fumando, na maior parte do tempo...
E, junção de várias dessas atividades ocorreu-me assistindo a dois filmes no cinema: O discurso do rei e Cisne negro. Pra melhor me explicar, os dois filmes se lêem (cada um à sua maneira) como livros – graças a seus roteiros tão finamente ciosos da linguagem verbal (e de outras linguagens) – , escrevem-se – como palavras que vão se cadenciando pouco a pouco no cérebro, feito num passeio por uma floresta de signos linguísticos – , escutam-se como discursos musicais – … – , podem ser assistidos e assistirem como poucos filmes podem assistir a (+ a = à) assistência a respirar – e (por quê não?) a fumar um bom cigarro na saída da sala.
Quanto aO discurso do rei, não vou dizer mais coisa alguma,

e pouco mais que coisa nenhuma é o que direi sobre o Cisne negro,
um dos melhores filmes que vi ultimamente: (citando-o, em parte: “)senti, fui per-feito(”), des-feito, re-feito, estupe-feito por ele, embora O discurso do rei conte com uma melhor nota no site (ironicamente intitulado) www.rottentomatoes.com (traduzindo o nome: tomates podres), o que deveria figurar como a razão de ser deste texto, já que o objetivo do blog é reciclar assuntos, vídeos, imagens, artigos ou, menos precisamente, inspirações (em geral) que possam ser encontradas na Internet, como esse site em que se reúnem críticas de arte advindas dos mais variados lugares e suportes. Na verdade, tudo pode ser encontrado na Internet, o que quer dizer que, mesmo que a inspiração pra alguns destes textos meus venha, num primeiro momento, de uma experiência real, dou-me o direito de procurá-la, em seguida, no mundo virtual e transcriá-la neste NetNoteBook, neste CarNet, nesta CaderNet...
Injusto? Injusto partir do real e, só depois, transferi-lo ao virtual, sendo que meu projeto inicial era dar voltas e mais voltas dentro da net e jamais sair dela? Injusto quebrar minha própria regra, minha regra primeira, a regra que distinguiria meu blog de tantos outros?...
Injusto, sim – somente se eu não acreditasse que “um personagem de um livro é tão real quanto um personagem real”, se não concordasse com Georges Perec, de quem tiro a citação anterior, pra quem o virtual e o real se acomodam no mesmo e único plano, nem que seja mental, o que o faria, por conseguinte, real, físico, corpóreo: a mente, este lugar, esta coisa impalpável, quase fictícia, possuímo-la no corpo e ela nos possui, de fato, de corpo e mente – e alma...
Injusto seria deixar de reciclar tais filmes e tomates podres pelo ilegítimo motivo de desejar erguer um muro entre mundos que não são fronteiriços, e, sim, imbricados uns nos outros, somente pra ser um quase nada original na empreitada.
Injusto, por fim, seria deixar de mencionar o divertido pseudo estudo científico de Perec sobre os efeitos tomatotópicos – ou seja, sobre os efeitos dos tomates jogados – numa soprano (leia o artigo), o qual me veio à cabeça enquanto eu investigava o www.rottentomatoes.com, mas que, originalmente, eu havia lido em um livro, não na Internet. Injusto seria eu me privar e privar o leitor de qualquer conexão pertinente entre realidades e virtualidades tão diversas quanto a frente e o verso, quanto o verso e a prosa, quanto o prosáico e o poético, quanto o náutico e o internáutico, quanto aquilo que é interno e aquilo que é externo a uma coisa qualquer, a qualquer coisa... Injusto seria eu tirar férias de tudo isso que, em mim e em minha pena – digital – , se (con)fundem sem pena alguma. Injusto seria eu tirar férias de mim; não tirar férias das férias; prolongar as férias da escrita simplesmente porque, durante esse mês e pouco de férias, não tirei um tempinho pra Internet, nem mesmo pra responder aos e-mails dos amigos – aliás, peço que me perdoem a ausência.

mardi 18 janvier 2011

¿A maçã comeu ?¿ quem ?¿ comeu a maçã? / Pomme croque(-)monsieur

Français:
Apple, pour les particuliers au moins, c'est un peu comme la pilule rouge (ou bleue, ça dépend...): dès que tu l'avales, tu te rends (plus) compte de la Matrix et ton monde change à jamais. Moi, par exemple, je viens de m'acheter mon premier produit Apple, un MacBook, et aujourd'hui, en regardant les infos, quand on a parlé de l'arrêt maladie de Steve Jobs (le manitou du pommier), j'ai monté le volume de mon ordi et tendu mes oreilles pour bien saisir ce qu'on disait: c'est comme si, tout d'un coup, ce qui concernait Apple me concernait aussi, personnellement, comme si l'on me renseignait sur la santé d'un oncle qui habite de l'autre côté de l'Atlantique et que c'est pour ça que je n'ai jamais fait sa connaissance. Bref, depuis ce matin, j'entends une toute petite voix dans ma tête – me questionnant si c'est bien moi qui ai croqué cette pomme ou si ce n'est pas plutôt le contraire...
Português:
A Apple, pelo menos pros usuários domésticos, é mais ou menos como a pílula vermelha (ou azul, depende...): uma vez engolida, você se torna (in)consciente da Matrix e seu mundo não é nunca mais o mesmo. Eu, por exemplo, acabo de comprar meu primeiro produto da marca, um MacBook, e, hoje, enquanto assistia ao jornal, quando começaram a falar da licença médica de Steve Jobs (o mandachuva da macieira), aumentei o volume do computador e levantei as orelhas pra captar melhor a notícia: é como se, de repente, aquilo que diz respeito à Apple passasse a ter algo a ver comigo também, como se estivessem comentando sobre a saúde de um tio distante e que eu só não conhecia porque ele mora do outro lado do oceano. Enfim, desde hoje de manhã, eu escuto uma vozinha na minha cabeça – que me faz duvidar se fui eu que mordi essa maçã ou se não foi ela é que me mordeu...

Images en Méta-mo(t)-rphose

(Poème inspiré du documentaire Women are heroes:
                                                                                     .)
 

Owen Pallett - oui, seul, lui, il sont des sons / ele, sim, só, são sons

Français:
La première fois que je l'ai écouté je me suis dit: wow, c'est trop beau! un morceau avec toute cette orchestre dont les membres semblent chacun jouer une chanson différente dans cet arrangement où seule la voix réussit à les réunir au moyen d'une mélodie que les instruments ne laissent pas prévoir... Mais, finalement, j'ai découvert qu'il se présente tout seul sur scène...

Português:
A primeira vez que escutei, eu pensei: uau, lindo! uma música com uma baita duma orquestra cujos membros parecem tocar, cada um deles, uma música diferente nesse arranjo onde só a voz consegue juntar todos os pedaços através de uma melodia que os instrumentos não permitem prever... Mas, no fim das contas, descobri que ele se apresenta sozinho no palco...


lundi 10 janvier 2011

Gil Scott-Heron, Werner Herzog – e Huey Freeman (?!)

Minha idéia-prima, o primeiro fio deste texto, era só compartilhar uma descoberta bem recente, datada de um dia atrás: Gil Scott-Heron. Mas não ia dar pano pra manga, eu não poderia contar mais do que aquilo que me contava o Wikipedia. Então tinha decidido simplesmente fazer o papel da agulha - da costura e da vitrola - , atá-los à música – ao poema, ao slam – que queria mostrar, caçando um vídeo no VocêTubo e (por que não? – e como adoro esse “por que não?” entre parêteses...), no fim das contas, reproduzindo umas palavras da minha, da sua, da nossa enciclopédia livre, virtual e indispensável...
Foi aí que meu-jizuis-cristim lançou-me dos céus, das nebulosas eletrônicas, este vídeo:
Agradeço ao meu caríssimo desconhecido “jlm1973” por essa colcha de retalhos, por ter colocado as palavras de “The revolution will not be televised” (“A revolução não será televisionada”) – de Gil Scott-Heron, o padrinho do rap, Black Panther na veia – na boca do meu profeta revolucionário – fracassado – favorito, Huey Freeman, esse pequenino com um black – super – power que tanto me inspira, e, acima de tudo, entrevistado por Werner Herzog, a chave de ouro do clip, o nó cego que uniu três dos meus mais queridos visionários.
Por fim, só posso recomendar que busquem por conta própria – caso ainda não conheçam – os três: Gil Scott-Heron (jazz, soul, poesia etc., tudo de primeira e, às vezes, coisa de pioneiro - é o que dizem o Wikipedia e a minha primeira e intuitiva impressão), Werner Herzog (autor de, dentre vários filmes, alguns dos melhores documentários que já vi) e Huey Freeman (um dos protagonistas do que é o meu seriado de animação preferido, “The boondocks”).
Boa pesquisa.
P.S.: Aos fãs de “The boondocks” que estejam tão desinformados quanto eu estava, há uma terceira temporada do seriado, e que parece já estar na rede faz tempo.

samedi 8 janvier 2011

Vídeos virais e deveras vírus – celulares

Ainda na trilha dos vídeos virais, as febres de assistência internáutica, um dia encontrei este vídeo: um celular que eu achei que iria substituir praticamente tudo de que tenho necessidade, excetuando a mulher, a família, mas não o prato de comida, que eu poderia facilmente encomendar por um telefonema ou pela internet – do celular, claro (ou tim ou):
Mas hoje vi que não é lá grandes coisas o que se poderia fazer com esse tal do Mozilla Seabird, pois o Nokia N8, que só fui descobrir há alguns minutos, tem não somente tudo aquilo de que preciso mas também tudo o mais que tenho certeza que nem tentarei usar, seja por simplesmente não saber – e não ter a mínima vontade de aprender – como manejar um ou outro aplicativo, seja pelo medo de receber uma conta superfaturada no mês seguinte – por ter passado horas conectado à internet só porque não sabia que tinha de me desconectar após ter verificado meus e-mails ou o site de ajuda do meu próprio celular – , seja pela completa inutilidade – no que me concerne – da maioria dos aparatos do aparelho. Por exemplo, nosso caríssimo (…) N8, com a ajuda de um microscópio – que não é incluído no pacote – , ele pode produzir – e produziu, com fins publicitários – um belo curta-metragem, e com o menor personagem de todos os tempos:
E não é só isso, continuando com o microscópio, ele é capaz de diagnosticar a malária... Mas, na verdade, se você tiver o microscópio – que nem sei se está disponível nas lojas – , você pode ver os bichinhos brigando lá na sua mostra de sangue; daí ao diagnóstico de qualquer coisa que seja, recomendo mais que vá ao médico, deixe que peça ele mesmo o exame de sangue – caso haja necessidade – e o envie para o laboratório. No entanto, caso você não tenha acesso a nada disso (médico, laboratório, hospital), caso você esteja em, suponhamos, Uganda – como na publicidade abaixo – , reze pra que a ONU ou a Cruz-Vermelha ou sei-lá-o-quê-ou-quem tenha um Nokia N8 – com um microscópio (muito importante!) especial pra ele – e que (ainda mais importante!!!) o aparelho consiga captar uma rede de celular, embora você se encontre – obviamente – fora de área de serviço...:
E você também pode olhar o nome das suas manobras de skate no aparelho; pode fazer carinhas de robô nele; nunca mais se perder graças ao GPS; você pode até pintar parede com o seu N8 – só é necessário que essa parede seja um painel de luzes coloridas que reconheçam os raios infravermelhos do seu celular... Resumindo, o N8 oferece inúmeras e inestimáveis (…) possibilidades àquele que o adquirir; mas o melhor de tudo (mesmo!), o ponto mais vantajoso, o mais ecológico, o ponto mais infinitamente positivo – elevado ao infinito – é que a bateria do N8 pode ser recarregada por um (–: ATENÇÃO :–) hamster!!! (Será que precisa mencionar que, assim como o microscópio, o “porquinho-da-índia” também não vem de fábrica?...)
Enfim, impressionante? Sim, sem a mínima sombra de dúvida. Mas mais impressionante ainda – na minha mais sincera, sinceramente irônica e, sim, seriíssima e falsamente modesta opinião nada mais que pessoal – , o que mais me impressiona é o fato de tomarem, por carro-chefe da propaganda, a frase “It's not technology, it's what you do with it” (“Não é tecnologia, é o que você faz com isso”), acompanhada da pergunta “What will you do with it?” (“O que você vai fazer com isso?”):
Ao menos eles também expuseram sua mais sincera, sinceramente irônica e, sim, seriíssima e falsamente modesta opinião nada mais que marqueteira, pois sabem bem que a gente não sabe o que fazer com isso. No meu caso – fictício – , talvez eu fizesse as malas – incluindo ali um microscópio, um painel de luzes, um hamster e um Nokia N8 – e partisse pra Uganda, onde eu produziria um micro-metragem cujo protagonista seria uma miniatura de hamster com uma miniatura de um N8 nas suas mini-patinhas, tentando pintar, naquele desproporcional painel de luzes, “Malaria: it's not technology, it's what you don't do with it” – já que a empresa ainda oferece como prêmio um vôo com gravidade zero para os realizadores dos oito melhores vídeos filmados com o aparelho:

P.S.: O hamster – de verdade – que eu levaria comigo pra Uganda, seria pra recarregar o celular na falta de uma tomada.
P.P.S.: Ofereço de bom grado minha idéia de micro-metragem em N8 àquele ou àquela que desejar – por sua própria conta e risco – se aventurar a realizá-lo. Só peço que me envie um cartão postal lá da Uganda – ou uma foto pelo celular, que conta com uma câmera de 12 megapixels...
P.P.P.S.: Sei que meu texto deu ainda mais vontade – a alguns – de ter uma maquininha dessas nas mãos; e reconheço que talvez só o tenha escrito porque “quem desdenha quer comprar”. Azar...
If you just don't know what to do with it, don't do it;
but if you do know what to do with it, JUST DO IT...

De sem-cama à fama em uma semana: vírus que não deixa de cama?

Numa das minhas pesquisas pelo imdb.com (The Internet Movie Database, um banco de dados sobre filmes do mundo inteiro e de todos os tempos), esbarrei num documentário intitulado “Winnebago man”, de Ben Steinbauer, cineasta e também professor na University of Texas. Foi assistindo a esse saborosíssimo filme que tive meu primeiro contato com o termo “viral video”, que certamente dispensa tradução. Trata-se desses vídeos que são postados num YouTube da vida e, uma vez compartilhados por Facebook, Twitter etc., alastram-se feito vírus, num instante são assistidos por milhões de internautas.
Quanto à origem do termo, infelizmente não posso dizer muito; não posso dizer nada, na verdade, pois daria um trabalho investigativo tremendo, e o que menos quero neste momento é mais trabalho. Mas posso, sim, dizer que a maior parte desses vídeos virais está relacionada ou com (1) clips musicais – de artistas conhecidos ou não – , ou (2) propagandas publicitárias engraçadas ou emocionantes – em todas as concepções de emocionante – , ou com (3) coisinhas bizarras, bonitinhas ou engraçadinhas – como bebezinhos e gatinhos dançando ou assustando crocodilos – , ou (4) grandes escândalos sociais e (5) avanços tecnológicos que fazem sonhar – gadgets e afins. Mas a grande, digamos, a maior maioria deles (6) tem um quê de sádica e sarcasticamente humorístico; eles apresentam geralmente algo que nós, brasileiros, denominamos vídeo-cacetada: em poucas palavras, esse último tipo de vídeo viral é uma vídeo-cacetada que infecta uma audiência muito maior que a do Faustão dominical; é todo o mundo rindo da desgraça de gente do mundo todo...
No entanto, na minha busca de ontem, encontrei algo que escapou desse padrão – ou não?...


Um repórter de Columbus (Ohio – EUA), com sua câmera no carro, para no semáforo e filma um mendigo – sem teto, sem nada – que, segurando sua plaquinha onde afirmava ter uma voz que é uma dádiva divina, faz anúncios de rádio imaginários e instantâneos em troca de uns trocados. O vídeo foi gravado, acho eu, no fim do ano passado (2010) e postado na internet na última segunda-feira (03/01/2011). Hoje, dia 8 – ou seja, em cinco dias – , já não dá mais pra contar o número de pessoas que assistiram ao vídeo, pois, além de o arquivo original ter sido compartilhado por milhões através dos meios usuais – Facebook etc. – , vários usuários repostaram o mesmo vídeo em seus próprios nomes, ocasionando até mesmo infrações de direitos e a retirada, o corte de disponibilização de alguns desses na web. No fim das contas – incalculáveis, a não ser no que concerne ao tempo de ascensão – , Ted Williams – antigo locutor de rádio (distanciado do metiê por causa do alcoolismo e das drogas), pai de sete filhas e dois filhos, morador de rua desde 1993, fichado na polícia por vários pequenos crimes – , só no decorrer desta única semana – única! – , virou febre internáutica, estrela viral, vírus estelar; recebeu proposta de publicidade virtual gratuita; fez a abertura de uma emissão de rádio da sua cidade; apareceu em inúmeros programas televisivos e radiofônicos de entrevista nos Estados Unidos; tirou nova carteira de identidade – pois não tinha mais – ; foi levado – de avião – a Nova Iorque para rever sua mãe – depois de vinte anos sem a encontrar – ; recebeu uma dezena de ofertas de trabalho – dentre elas, trabalhar em pequenas estações de rádio (virtuais e reais), tornar-se a voz publicitária da marca Kraft (indústria alimentícia) e, dentre todas, a mais espetacular até agora, ser o locutor oficial do estádio do Cleveland Cavaliers, time da NBA que, no ano passado, não chegou às finais do campeonato por muito pouco.


Ted Williams: sem cama numa semana; noutra, rumo ao hall da fama. Aliás, mesmo aqui na França (de onde escrevo neste momento), se você procurar no Google “Ted Williams”, o “morador de rua com uma voz de ouro” ganha dos resultados do jogador de baseball – que está realmente, há décadas, no hall da fama dos esportistas estadunidenses – , jogador homônimo seu.
Mas, retornando ao fenômeno desse pedinte radialista – e/ou vice versa – , por que esse vídeo, mesmo não se inserindo nas categorias que eu havia descrito, teria se tornado viral, tão fenomenalmente viral? Será que é o espírito natalino que ainda ressoa? Os desejos de um ano novo renovador, transformador, solidário e fraternal? Ou talvez mais uma forma de exploração? De tirar proveito, cada um do seu jeito, dessa história de “redenção”? Será que, se o mendigo não tivesse dito “God bless you” (“Deus te abençoe”) no vídeo, o resultado seria outro?
Não tenho resposta nenhuma pra nenhuma das minhas perguntas, e nem posso imaginar as questões ou soluções que possam ter passado pela sua cabeça durante esses alguns minutos de leitura. Só arrisco a dizer que, naquilo que configura um vídeo viral, essa história captada por Doral Chenoweth III (o repórter de Columbus que des-cobriu Ted Williams) parece ultrapassar os demais vídeos virais por formar uma bela mistura, tocar de alguma forma em todos aqueles que se enquadram nas categorias que esbocei: (1) relaciona-se com o fascínio, com o encanto que uma voz pode gerar, como os clips musicais; (2) Ted Williams produz seus anúncios – publicitários, de certa maneira – instantâneos, ali mesmo, que emocionam por seu caráter extremamente inesperado, o que engloba também (3) o bizarro, ver esse mendigo cabeludo e com os dentes todos e todo tortos, meio Fera, que, abrindo a boca, é mais belo que a Bela; (4) trata-se, sim, de um escândalo social, um retrato do fracasso do “american dream”, um desperdício de um talento que deveria ser valorizado nessa terra onde tudo é possível; (5) e (por que não?) lembra um avanço tecnológico também, é como se tivessem colocado um micro-chip, um sintetizador de voz naquele monstro, como se você mesmo pudesse apertar um botãozinho ou torcer o nariz e, abrindo sua própria boca, você escutaria uma voz completamente diferente da sua, você mesmo cantando a sua música favorita com o mesmo timbre dos seus cantores favoritos ou cantoras favoritas.
Sei que exagero nessas aproximações, mas só estou tentando compreender o fenômeno, convencer a mim mesmo que é possível chegar a uma conclusão, a uma explicação coerente pra que esse vídeo específico tenha causado tanto efeito. Só não quero, depois da época de balanço, ter a notícia de que Ted Williams voltou a morar na rua e que tudo isso não passou de uma exploração-relâmpago da imagem, da voz, da história desse personagem tão cativante. Só espero que tudo isso tenha um efeito real e positivo nesse sujeito – e na sociedade, internáutica ao menos – ; que isso não seja só um momento de contos de fada fadado a passar tão rápido quanto veio; que não tenha fascinado tanto simplesmente por ser “engraçado” esse joão-ninguém não ter o que botar nessa boca donde tira tanta maravilha; que esse vídeo e seu sucesso não se expliquem pelo prazer sádico de se ver, ou, até mesmo, de se rir da desgraça alheia, da vergonha alheia, do apagamento da dignidade do outro; que esse vídeo viral não se enquadre, finalmente, na tragicômica categoria da (6) vídeo-cacetada...

Gleison Túlio – rock é pouco

Alguns dias atrás, num troca-troca VocêTubular – YouTúbico, YouTubáico, YouTubético, YouTubense, YouTubiano, ou melhor ainda (pra mim que sou ituiutabano), YouTubano – , compartilhando vídeos entre amantes de rock, lembrei de um sujeito de quem tomei conhecimento pelo antigo “Conexão Telemig Celular”, faz uns cinco anos ou mais.
Lembrei também que meu primo Rogério, da banda Speed Porco, queria me levar num show do Gleison Túlio na minha última passada pelo Brasil; mas, infelizmente, não pude, e não lembro o porquê.
Mas foi só nessa recente noite de buscas VocêTubulares que realmente fiquei triste por ter perdido a chance de ver esse monstro tocar – muito mais que rock, rola folk(lore, mais ou menos...), blues, tecno, pop, tudo e experimental, etceteretal. Quem sabe nesse bem próximo pulo por Belo Horizonte, nesse fim de janeiro ou fevereiro?
Enquanto isso – e enquanto ele não recebe a visibilidade (ou audibilidade...) que merece – , salve o VocêTubo, onde tem Gleison Túlio de tudo quanto é tipo:



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dimanche 2 janvier 2011

Haikai: reflex(ã)o

Depois de ter escrito meu haikai "d'anos novos", um haikai reflex(ã)o

(Comandam-se estrelas
e desejos em cadência
- fogos por artifício),

encontrei um belo haikai, de mesmo tema, mas escrito à moda antiga, um haikai reflexo (se bem que apresente uma certa reflexão - ou um reflexo da subjetividade do poeta - com suas "silenciosas" estrelas):

Noite de Ano Novo:
Após a queima de fogos,
Estrelas silenciosas

             Edson Kenji Iura (http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/temdomes/2010/12/tempoe17.php).

Então me pergunto, numa ambição aumentativa da tradição:

Haikai (por que não?)
mais que reflexo do olhar
- um(a) reflexão

Gás - capital - natural

Nada mais natural:
a natureza dá, a gente recebe; a natureza não dá, a gente toma...
Nada mais humano, na verdade,
que extrair o natural de forma artificial e vender esse “natural” como a coisa mais natural do mundo,
só pra dar um gás na economia, um gás no capital...
Nada mais humano, ou, naturalmente, desumano,
que pensar que, quando não houver mais natureza habitável e explorável, poderemos, graças ao recheio dos nossos bolsos, comprar uma passagem pra lua ou pra Marte,
ou, melhor ainda, fazer do cofre-forte o nosso refúgio, o nosso recanto, o nosso remanso,
o nosso habitat – artificialmente – natural...

No entanto, nada tão custoso...
Nada mais custoso que o lucro de uns poucos às custas de tantos outros,
sobretudo às custas de tudo e de todos – a longo prazo, às custas desses mesmos "uns poucos"...
E não há nada de natural nisso:

natural é pensar que o umbigo é o centro do mundo,
mas nada mais que o centro, e não o mundo inteiro, não todo o mundo...

(Meros reflexos e reflexões a partir deste filme:

:











Com essa história de Pré-Sal,
melhor pensar bem no após,
pensar nos contras e prós,
pensar no nosso quintal,

senão a gente “tá no sal”...)