Bom de beat bate boca
em sonho bom
Zéfere
Bom de boca
Bate boca
Todo dia
O dia todo
Pouco importa
Boca cheia
Boca suja
Boca boa
Bocadinho
Que abre a boca
Bota o povo
Boquiaberto
Todo bobo
Todo ouvidos
Só pra ouvi-lo
Mais um pouco
Bom de boca
Se abre a boca
E bate um beat
E boxeia
Com o ouvinte
Co’a plateia
Nũé da boca
Só pra fora
Bota a boca
Em todo o mundo
A boca toca
E bate fundo
Em cada corpo
Vivo ou morto
Fauna ou flora
O fora adentra
O dentro afora
Co’o balanço
Que bombeia
Batucando
Quando bumba
Co’a botija
Do trombone
E do trompete
Que repete
Que repete
Que repete
Que repete
Repeteco
Vira furo
Dá notícia
Em discoteca
E se propaga
Boca em boca
Plaga em plaga
Lá na zona
Em zona sul
A boca pega
Na favela
Em todo lado
O beatboca
Vira praga
*
Bom de boca
Nesse entanto
Também pede
Um bom descanso
De vez em quando
Que nem todo homem
Tem dom pra santo
*
Tem boca livre
Faz ũa boquinha
Vendo um pedaço
De mau caminho
Canta baixinho
Dá um estalinho
Chega o domingo
Pede cachimbo
Boca de fumo
Julga propício
Vício em silêncio
Sempre um bom pito
Dá ũa pitada
De temperança
No pensamento
Para co’o tempo
Pito aspirado
Chama num trago
Chama silente
Brasa no peito
Que inspira a gente
Pois mesmo assim
De boca tapada
Tem bate boca
Co’a boca do topo
Que lá em cima
Toda ensimesmada
Em massa cinzenta
Não fica parada
Inventa outro beat
Que bate quebrado
Novo bailado
Bolado co’o fumo
Espiralado
Fumaça que sopra
Sai feito nota
Caindo na dança
Feita no fundo
Do inquieto bestunto
Mas estranhado
Sem soar ressonância
Meio que cansa
Se passa de um tico
Bico fechado
Sem som proferido
Fere um bocado
Parece que cansa
Cricri de grilo
Na boca do rio
*
Puxa o seu pito
Da boca pra fora
Dá-lhe descanso
Na boca da noite
*
Enche a sua boca
De dentifrício
Dita batida
Beat de escova
Scratch de dente
Mixa bochecho
Com quebra-queixo
Sempre com ritmo
Segue a cadência
Do útil rimado
Em múltiplo agrado
Arruma um pijama
Ruma pra cama
Deita e se nina
Então se nana
De olho fechado
De boca aberta
Dorme sem sono
E sonha que sonha
Ainda acordado
*
Bom de boca
Em bate boca
Todo dia
O dia todo
Mas contudo
Todo mudo
A boca move
A língua encena
Mas sua pena
Cumpre e sofre
Pois não se ouve
*
Todo o mundo
Muito embora
Todo ouvidos
Pode ouvi-lo
E o povo todo
Todo bocas
Bate agora
O que se bate
Da sua boca
Só pra dentro
Boca afora
Num crescendo
Só na boca
Lá do povo
Feito o som
Fosse um sonho
Que só soa
Noutro corpo
Feito o povo
O analfabeto
E o mais letrado
Fosse um oco
Que soubesse
E lesse em eco
A partitura
Que na boca
Embora muda
Se divulga
Todo o mundo
Lendo junto
E no compasso
Cada traço
E entrelinha
Que se cala
Nos seus lábios
Noite e dia
Dia e noite
Feito em sonho
Ou acordado
Feito mudo
Ou desbocado
Feito toda
E qualquer hora
Sempre fosse
Boa hora
Pra botar a
Prosa em dia
Em beatboca
Em poesia
Que inda fica
Feito cola
Ainda que indo
O som embora