lundi 18 avril 2011

Beatbox humano: o tal poema prometido há tanto tempo


Bom de beat bate boca
em sonho bom
                       Zéfere

Bom de boca
Bate boca
Todo dia
O dia todo

Pouco importa
Boca cheia
Boca suja
Boca boa

Bocadinho
Que abre a boca
Bota o povo
Boquiaberto
Todo bobo
Todo ouvidos
Só pra ouvi-lo
Mais um pouco

Bom de boca
Se abre a boca
E bate um beat
E boxeia
Com o ouvinte
Co’a plateia
Nũé da boca
Só pra fora

Bota a boca
Em todo o mundo

A boca toca
E bate fundo
Em cada corpo
Vivo ou morto
Fauna ou flora

O fora adentra
O dentro afora

Co’o balanço
Que bombeia
Batucando
Quando bumba
Co’a botija
Do trombone
E do trompete
Que repete
Que repete
Que repete
Que repete

Repeteco
Vira furo
Dá notícia
Em discoteca

E se propaga
Boca em boca
Plaga em plaga

Lá na zona
Em zona sul
A boca pega
Na favela
Em todo lado
O beatboca
Vira praga

*

Bom de boca
Nesse entanto
Também pede
Um bom descanso

De vez em quando

Que nem todo homem
Tem dom pra santo

*

Tem boca livre
Faz ũa boquinha

Vendo um pedaço
De mau caminho
Canta baixinho
Dá um estalinho

Chega o domingo
Pede cachimbo

Boca de fumo
Julga propício
Vício em silêncio
Sempre um bom pito
Dá ũa pitada
De temperança
No pensamento

Para co’o tempo

Pito aspirado
Chama num trago
Chama silente
Brasa no peito
Que inspira a gente

Pois mesmo assim
De boca tapada
Tem bate boca
Co’a boca do topo
Que lá em cima
Toda ensimesmada
Em massa cinzenta
Não fica parada
Inventa outro beat
Que bate quebrado

Novo bailado
Bolado co’o fumo
Espiralado

Fumaça que sopra
Sai feito nota
Caindo na dança
Feita no fundo
Do inquieto bestunto

Mas estranhado
Sem soar ressonância
Meio que cansa

Se passa de um tico
Bico fechado
Sem som proferido
Fere um bocado

Parece que cansa
Cricri de grilo
Na boca do rio

*

Puxa o seu pito
Da boca pra fora
Dá-lhe descanso
Na boca da noite

*

Enche a sua boca
De dentifrício
Dita batida
Beat de escova
Scratch de dente
Mixa bochecho
Com quebra-queixo

Sempre com ritmo
Segue a cadência
Do útil rimado
Em múltiplo agrado

Arruma um pijama
Ruma pra cama
Deita e se nina
Então se nana

De olho fechado
De boca aberta
Dorme sem sono
E sonha que sonha
Ainda acordado

*

Bom de boca
Em bate boca
Todo dia
O dia todo

Mas contudo
Todo mudo

A boca move
A língua encena
Mas sua pena
Cumpre e sofre
Pois não se ouve

*

Todo o mundo
Muito embora
Todo ouvidos
Pode ouvi-lo

E o povo todo
Todo bocas
Bate agora
O que se bate
Da sua boca
Só pra dentro

Boca afora
Num crescendo
Só na boca
Lá do povo

Feito o som
Fosse um sonho
Que só soa
Noutro corpo

Feito o povo
O analfabeto
E o mais letrado
Fosse um oco
Que soubesse
E lesse em eco
A partitura
Que na boca
Embora muda
Se divulga

Todo o mundo
Lendo junto
E no compasso
Cada traço
E entrelinha
Que se cala
Nos seus lábios

Noite e dia
Dia e noite

Feito em sonho
Ou acordado
Feito mudo
Ou desbocado
Feito toda
E qualquer hora
Sempre fosse
Boa hora
Pra botar a
Prosa em dia
Em beatboca
Em poesia

Que inda fica
Feito cola
Ainda que indo
O som embora

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